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sexta-feira, setembro 14, 2012

ANIVERSÁRIO DA MORTE DO CORONEL CARLOS MAGNO NAZARETH CERQUEIRA




ANIVERSÁRIO DA MORTE DO CORONEL CARLOS MAGNO NAZARETH CERQUEIRA

O SONHO DE UMA NOVA SOCIEDADE

PMERJ GCG

O escritor austríaco Thomas Bernhard (1931-1989), um dos mais festejados e polêmicos autores da segunda metade do século XX, certa feita, convidado a proferir um discurso pela recepção do prêmio nacional austríaco de literatura, para surpresa e consternação geral da audiência, principiou sua fala dizendo o seguinte: não há nada a louvar, nada a amaldiçoar, mas muito há de ridículo; tudo é ridículo quando se pensa na morte.

Seguimos pela vida amealhando títulos e condecorações, descuidados, imperturbados diante da escandalosa brevidade da existência humana. Na medida em que o tempo passa, as paredes e as gavetas das mesas que nos circundam vão sendo tomadas por adereços variegados e pelo pó que se acumula indiferente sobre elas, a proporcionar atmosfera imponente aos nossos sítios e trabalho extra para aqueles que se ocupam das cinzas, que os dias espalham sobre a nossa claudicante opulência de mendigos fartos.

Meus comandados, a despeito da aparente obviedade da assertiva de Bernhard, minha fé inabalável na verdade transcendental da alma humana, me impede de aceder ao dito do insigne romancista. Do meu ponto de vista, as homenagens que prestamos às pessoas que fizeram de suas vidas algo digno da nossa admiração, não constituem um aspecto do risível da condição humana; nascem de uma predisposição engendrada pela mão misteriosa que conduz o gênero humano pelo báratro da história, a fim de denunciar o ridículo da própria morte, porque sabemos que somos estrangeiros neste mundo; que é preciso renovar a esperança do milagre, onde ninguém acredita mais em milagres; que há uma luz para além de toda essa pavorosa escuridão e que é preciso criar beleza sempre, ainda que breve, como alternativa contra a face do horror.

Há exatos treze anos, o coronel Carlos Magno Nazareth Cerqueira era violentamente arrancado do nosso convívio. A mesma violência que ocupou o centro de suas preocupações, como intelectual e homem público, surpreendia o grande comandante no final da tarde de uma terça-feira, quase à hora do crepúsculo, enquanto morria a tarde e as rosas, como no poema de Manuel Bandeira.

Nascido na cidade do Rio de Janeiro, em 11 de setembro de 1937, era filho de Antônio Lourenço Cerqueira e Maria Madalena Nazareth Cerqueira. Ingressou como cadete da Polícia Militar em março de 1953, concluindo o curso de formação de oficiais em dezembro de 1955, sendo promovido ao posto de coronel em agosto de 1981. Ocupou funções importantes na Polícia Militar: comandante do 4º e do 19º Batalhões de Polícia; chefe da PM-3; diretor de ensino; ajudante-geral e chefe do estado-maior da Corporação, na transição do governo Chagas Freitas para Leonel Brizola. Durante os dois mandatos deste último, ocupou o cargo de secretário de estado de Polícia Militar, marcando sua passagem pela notável conjugação de duas vocações, que nele conviviam harmoniosamente: o intelectual e o homem de ação.
Há um verso de Fernando pessoa, das odes de Ricardo Reis, que diz assim: para ser grande sê inteiro, nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes. Penso que esse dizer constitui uma síntese extraordinária da dimensão de coerência, que na pessoa do coronel Carlos Magno Nazareth Cerqueira reuniu a um só tempo a figura do republicano convicto – consciente dos desafios do seu tempo -, com aquela do pensador orgânico, cuja inteligência colocou a serviço da transformação de uma categoria profissional.

No momento em que o Brasil despertava da noite escura dos anos de chumbo, a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro teve o privilégio de poder contar com esse gigante. Pensar uma nova identidade para a Corporação; compreender a natureza da atividade policial como serviço público e não apenas como força a serviço da disciplina dos despossuídos; atualizar todas as possibilidades inerentes a esse paradigma foi a tarefa maior de sua vida profissional.

Como gestor policial, o coronel Carlos Magno Nazareth Cerqueira promoveu inovações que fizeram escola no Brasil: implantou o policiamento comunitário, quando ninguém no país pensava essa filosofia;
criou o Grupo de Policiamento nos Estádios, na tentativa de compreender e dialogar com as torcidas organizadas; instituiu o núcleo de atendimento a crianças e adolescentes, para enfrentar a problemática do ato infracional; criou o programa de resistência ao uso indevido de drogas -o PROERD -e o Grupo de Policiamento Turístico, núcleo do atual Batalhão.

O coronel Cerqueira trouxe o estado de arte à praxe policial, porque compreendeu o “fazer polícia” como a culminância de um esforço da inteligência. Não por acaso, ou diletantismo, produziu textos, seminários e cursos, para não falar da célebre Biblioteca da Polícia Militar, espaço aberto para a publicação e tradução de diversas obras e estudos sobre polícia e criminalidade.

Homem de ideias, democrata apaixonado, o coronel Carlos Magno Nazareth Cerqueira foi um humanista, no sentido exato que os filósofos do renascimento davam a essa expressão. Sua vasta e rica produção intelectual revela uma fé inabalável nos direitos fundamentais do homem e no valor da pessoa humana, como princípios estruturantes de uma sociedade bem ordenada. A atualidade de seu pensamento está, precisamente, nessa relação indissociável -que é o núcleo duro de suas reflexões -, entre o respeito aos direitos humanos e a paz.

Na esteira do pensamento de Norberto Bobbio, de quem foi assíduo leitor, o coronel Cerqueira percebeu que o fenômeno contemporâneo da violência tem uma relação íntima com a lógica de reprodução de uma sociedade insensível ao dever de garantir o pleno desenvolvimento das potencialidades humanas;
porque, fundada sobre uma racionalidade de shopping center, nossa fulgurante sociedade de quinquilharias, longe de alimentar as almas de seus cidadãos, se converte, cada dia mais um pouco, em um monstruoso moinho de gastar gente, na bela e terrível metáfora cunhada pelo professor Darcy Ribeiro.

Os notáveis ensaios do coronel Cerqueira apontam para uma crítica do modelo de organização social e para a necessidade de repensá-lo, desde as suas bases. Cerqueira observou que o sonho de uma sociedade livre, justa e solidária, como objetiva o nosso texto constitucional, depende, fundamentalmente, de uma mentalidade nova; uma mentalidade alicerçada em valores humanos, que devem ser estabelecidos a partir de uma cultura comprometida com a paz. Nesse sentido é que se deve entender segurança pública como responsabilidade de todos, porque somos solidariamente responsáveis por fazer essa cultura acontecer, mesmo com o deserto rugindo em torno de nós.

Que a leitura de sua obra possa nos ajudar a enfrentar com coragem e sabedoria os desafios colocados pelo horror, como essa inominável ocorrência do último final de semana, no município de Mesquita, quando nove pessoas foram mortas, entre elas um jovem cadete de nossa Corporação: o aluno oficial Jorge Augusto de Souza Alves Júnior.

Reduzir o milagre da vida a nada é uma insolência, contra a qual nós temos que nos insurgir. A brutalidade é um insulto à razão, porque a banalidade do mal transforma tudo em abismo; a vida em desesperança;
a sociedade numa vaga ideia, altamente filosófica e insuportável.

Do exemplo deixado pelo coronel Carlos Magno Nazareth Cerqueira venham as luzes sobre as trevas da nossa desesperança; afastando o medo e a tibieza, devolvendo aos corações cansados a alegria e a certeza de que é possível construirmos um mundo diferente, onde os seres humanos -e não a economia -sejam a causa dos nossos estremecimentos; para que um dia essa frágil e desassossegada criatura possa, enfim, sentir-se menos infeliz sobre a superfície da terra.

Aj G – Bol da PM n.º 172 - 13 Set 12
ERIR RIBEIRO COSTA FILHO -CEL PM
COMANDANTE GERAL

(Nota nº 0908 - 13/09/2012)

5 comentários:

Marcus disse...

Alves,quando entrei para PM era ele nosso Cmt Geral, e apersar de toda sua inteligência e cultura,ele, juntamente com Leonel Brizola, é um dos responsáveis pelo quadro crítico q vivemos na segurança hj em dia. Foi quando surgiram essas facções criminosas e, devido a nenhum combate, já q era proibido fazer incursões nas "comunidades", elas cresceram e alcançaram essa força q tem hj em dia. Antes, uma vtr com 5PM entrava na favela e botava os vagabundos pra correr, hj precisam de "caveirão", Helicóptero, 100PM. Esse é o legado que ele deixou. Valeu, um abraço.

Anônimo disse...

Marcus, desculpe, sou observador a mais de 30 anos da bandidagem dentro da PMRJ. O que fez a bandidagem crescer foi a corrupção policial que perdura até hoje, onde o dinheiro, para esses bandidos de farda, é mais importante que a vida deles. Sempre tem câmera pegando a bandidagem de farda cometendo crimes. Bandido não compra armas, munição e drogas na padaria da esquina e é um material que eles conseguem fácil e farto. Você tem dificuldade de encontrar uma aspirina na farmácia, agora, droga se acha a qualquer tempo e bandido não sai para comprar, alguém leva até a eles e sempre foi provado que a maior parte é fornecida por PMs corruptos.

Unknown disse...

Foi o pior comandante que a policia militar do Rio de Janeiro teve, se pegou no comando de Leonel brizola, e nos obrigou a chamar o vagabundo de senhor, e pisou de todas as formas em seus subordinados (soldados). Tenho certeza que o mesmo está pagando em algum lugar o que fez com a tropa!

Unknown disse...

PC Farias e CMT Cerqueira, tiveram às versões sobre seus assassinatos rapidamente aceitas pelas polícias de seus estados. O que há em comum entres esses assassinatos?

As versões são aceitas pelos governos, soam como alívio, e o tempo faz o povo esquecer.

capitão1970 disse...

Mas o coronel não teve culpa se a criminalidade aumentara. Ele só fazia até ao limite do que ele poderia fazer. Ele só poderia administrar o que ele tinha. A culpa maior foi do Brizola do que dele.