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domingo, fevereiro 09, 2014

Jovem que entregou rojão que atingiu cinegrafista é preso em casa







 O GLOBO

RIO - O tatuador Fábio Raposo foi preso, no início da manhã deste domingo, no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste do Rio. Ele estava na casa dos pais. No fim da noite deste sábado, a pedido do delegado Maurício Luciano de Almeida, da 17 DP, a justiça havia decretado a prisão do jovem, que admitiu ter passado a outro homem o rojão que atingiu o cinegrafista da Bandeirantes Santiago Ilídio Andrade, durante manifestação no Centro do Rio, na quinta-feira. Fábio se apresentou na 16 DP (Barra) na madrugada de sábado. Ele, que aparece em imagens feitas pela imprensa usando bermuda preta, disse que encontrou o artefato no chão e repassou para o outro homem que aparece em fotografias usando calça jeans e camisa cinza suada nas costas. O suspeito está sendo procurado pela polícia, que está verificando imagens de câmeras de segurança da região que possam ajudar a identificação.

Fábio chegou à delegacia com o advogado Jonas Tadeu Nunes, que afirmou estar tentando revogar o pedido de prisão do tatuador. Ele afirmou, ainda, que tenta convencer o jovem a fornecer mais informações para a polícia, e aceitar um acordo de delação premiada.

— Estou conversando com meu cliente e tentando revogar a custódia que foi pedida pelo delegado. Não posso afirmar que ele conhecia o outro manifestante, mas estamos tentando convencê-lo a aceitar um acordo de delação premiada. Fábio ainda está relutante.

O pedido de prisão de Fábio foi analisado e concedido pouco antes da meia-noite pelo juiz do plantão judiciário do TJ. Em entrevista coletiva na tarde de sábado, Maurício Luciano afirmou que, para a lei, pouco importa quem efetivamente efetuou a ação. As penas aplicadas serão as mesmas. Fábio foi indiciado por tentativa de homicídio qualificado com uso de explosivo e por crime de explosão e já responde como coautor do crime. Mas, se ele confessar participação no crime, poderá ser beneficiado por delação premiada. Segundo o delegado, num primeiro momento ele está negando participação, mas pode ser que, ao longo das investigações, ele não tenha mais alternativas e colabore. Se o homicídio for consumado, o tatuador pode pegar até 35 anos de prisão.

O delegado confirmou que o jovem, de 22 anos, já tinha duas passagens, todas relativas a manifestações: no dia 7 de outubro de 2013, na 5ª DP (Mem de Sá), por associação para o crime, dano ao patrimônio e associação criminosa, cuja investigação ainda está em andamento. Na 14ª DP (Leblon), em 22 de novembro de 2013, por ameaça.

A polícia já pediu ao Comando Militar do Leste, à Supervia e à prefeitura do Rio imagens de câmeras de segurança instaladas no entorno do local onde Santiago foi atingido. O objetivo é verificar se alguma delas mostra o rosto do homem que acendeu o rojão.

Para delegado, depoimento de jovem foi orquestrado por advogado

Durante a coletiva deste sábado, Maurício Luciano afirmou que o depoimento de Fábio foi orquestrado pelo advogado que o acompanhou. Maurício afirmou que as imagens já divulgadas até o momento não condizem com as declarações do jovem, que alegou não conhecer o suspeito, e somente ter repassado a ele uma bomba que viu cair no chão.

— Ficou claro que o depoimento foi orquestrado. Uma das provas é que inclusive o Fábio tirou a sua página do Facebook do ar. Estamos pedindo à Delegacia de Crimes de Informática que tente recuperar as informações — disse o delegado.

Segundo o titular da 17ª DP, a polícia viu nas imagens que ele o outro jovem agiam em conjunto, caminhando lado a lado.
O depoimento dele sobre a não participação e sobre não conhecer o outro jovem não é verossímil — disse Maurício Luciano, em entrevista à Globonews, e acrescentou que Fábio esteve na delegacia às 4h da manhã. — Ele disse que achou o artefato e ficou carregando durante a manifestação e que o segundo elemento pediu. Disse que entregou para ele e que o outro rapaz colocou no chão e acendeu.

Fábio contou em depoimento, acompanhado por advogado, que não foi o responsável pelo lançamento, e que não conhece o outro jovem. Em entrevista à GloboNews, Fábio admite que era ele o jovem de bermuda preta, identificado nas imagens:
 Sim, era eu. As fotos que foram apresentadas nas mídia era eu sim. Eu era o de camisa, bermuda e tênis, com tatuagens. Era eu passando o artefato sim, para o outro indivíduo, mas o artefato não era meu, Quero deixar isso bem claro. O artefato não era meu.

O rapaz conta que estava na manifestação, viu uma confusão, foi lá conferir e viu um artefato cair.

— Quando cheguei houve um corre-corre, fui ver o que estava acontecendo, estava havendo confronto entre PMs e manifestantes. Como estavam jogando bombas de gás, coloquei a máscara para minha proteção. Fui até lá ver confronto e, neste momento, vi que um rapaz correndo deixou uma bomba cair, um negócio preto. Eu peguei e fiquei com ela não mão. Este outro cara disse: passa para mim que eu vou e jogo. Foi só isso - afirmou à GloboNews.

Segundo o jovem, ele não teve em nenhum momento intenção de machucar ninguém.

— Em momento algum vou para manifestações para quebrar coisas, bater em polícia, jogar pedras. Não fui eu. Não tive a intenção de machucar nenhum repórter. Estou vindo aqui porque estou assustado por minha foto ter sido divulgada em mídias internacionais. Inclusive recebi até ligações de pessoas deconhecidas, de manifetantes, de grupos, pedindo para eu assumir o caso e falar que fui eu, tentando me obrigar — contou.

Ele pediu desculpas à família do cinegrafista:
— Quero o bem do repórter que está em coma. A família dele. Não sei o que falar. Melhoras aí para ele.

Rádio pede doação de sangue para cinegrafista ferido
A rádio Bandnews FM publicou neste sábado, em sua conta no Twitter, um pedido de doação de sangue para o cinegrafista Santiago Ilídio Andrade. Ele foi ferido por um rojão durante manifestação contra o reajuste das passagens, próximo à Central do Brasil, no Centro do Rio, na última quinta-feira.

A publicação informa que o tipo sanguínio de Andrade é O+ e que as doações podem ser feitas no Hemorio, na Rua Frei Caneca, 8, no Centro.

Boletim médico divulgado neste sábado pela Secretaria municipal de Saúde informa ainda que Santiago continua internado no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do Hospital municipal Souza Aguiar, no Centro.

Ele está em coma induzido e passou uma neurocirurgia. O cinegrafista teve afundamento do crânio e perdeu parte da orelha esquerda. A cirurgia durou cerca de quatro horas e terminou por volta de meia-noite e meia.

Fotógrafo flagrou rapazes no Centro
Um fotógrafo da Agência O GLOBO viu e registrou o homem que acendeu o artefato que atingiu a cabeça do cinegrafista. Na imagem, ele está de camisa cinza e aparece correndo, segundos após a ativação do explosivo. A imagem também mostra um jovem de bermuda preta, que teria envolvimento na ação.

— Eu estava acompanhando o protesto, quando vi um homem de calça jeans, camisa cinza e com lenço preto no rosto, abaixando e acendendo o fogo de artifício que estava no chão. Logo após, ele sai correndo. Consegui fazer a sequência do artefato atingindo o cinegrafista. A intenção de quem disparou era acertar os policiais que corriam na direção do grupo de manifestantes — disse o fotógrafo da Agência O GLOBO.

O cinegrafista foi atingido durante um protesto contra o reajuste das passagens na Central do Brasil, no fim da tarde desta quinta-feira. O estado de saúde dele é muito grave, segundo a Secretaria municipal de Saúde informou na manhã desta sexta-feira.

Segundo a Polícia Civil, 28 pessoas foram detidas e levadas para quatro diferentes delegacias. Vinte foram para a 19ª DP (Tijuca), sendo que duas responderão pelos crimes de desacato e resistência. Elas assinaram o termo circunstanciado e responderão em liberdade. Das 11 pessoas levadas para a 17ª DP (São Cristóvão), uma pessoa foi autuada por dano ao patrimônio público e outras duas por porte de drogas. Com a dupla foi apreendida uma pequena quantidade de cocaína e maconha. Uma pessoa foi detida e autuada na 5ª DP (Centro) por crime de tentativa de lesão corporal, após arremessar uma pedra contra um policial militar. Ela assinou termo circunstanciado e responderá pelo crime em liberdade.

Roupas do cinegrafista foram encaminhadas para perícia no Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE). Técnicos vão auxiliar na busca de provas técnicas para traçar a linha de deslocamento do artefato.

Além do cinegrafista, cinco pessoas ficaram feridas. Dois policiais militares foram atingidos por pedradas, mas sem gravidade, e três pessoas feridas foram socorridas no Hospital Souza Aguiar.

O protesto, que começou pacífico na tarde desta quinta-feira, se transformou num confronto entre manifestantes e policiais na Central do Brasil, com cenas de vandalismo dentro e fora da estação de trens. Policiais atiraram bombas de gás e de efeito moral contra o grupo de aproximadamente 800 pessoas, que reagiu lançando artefatos.

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