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domingo, abril 06, 2014

Comandante da Força de Pacificação reconhece que ainda há bandidos na Maré




Veículos com militares do Exército percorrem ruas do Complexo da Maré Eduardo Naddar / O Globo
RIO - Militares da Força de Pacificação estão reunidos, desde o início da manhã deste domingo, distribuindo panfletos e pedindo a colaboração dos moradores do Complexo da Maré. Um carro de som circula na comunidade anunciando a chegada da Força de Pacificação, pedindo a atenção da população. No entanto, o clima é tenso. Sem se identificar e com discrição, moradores alegam que estão sendo ameaçados pelo tráfico e , por isso, não podem se aproximar da imprensa e dos soldados do Exército. O comandante da Força de Pacificação, general de brigada Roberto Escoto, reconheceu que ainda há bandidos escondidos na Maré.

— Sabemos que alguns bandidos abandonaram a Maré, mas ainda há presença de outros aqui. Além de atuar dentro da comunidade, nós temos um centro de inteligência com especialistas que vão trabalhar para identificá-los — afirmou Escoto.

Os militares tiveram que conter um confronto entre moradores da Nova Holanda e da Baixa do Sapateiro, antes dominadas por facções rivais. O tumulto começou quando o jovem Cláudio Brum dos Reis, de 22 anos, foi retirado ferido de um valão. Segundo parentes, ele é morador da Nova Holanda e saiu da cadeia há dois meses. Eles acreditam que o espancamento foi motivado pela rivalidade entre facções. Para controlar a confusão, soldados do Exército fizeram disparos para o alto e usaram gás de pimenta. O comércio está aberto, e são realizadas partidas de futebol na Vila Olímpica.

Patrulhamento está sendo feito 24 horas por dia

O comandante Escoto disse que o fato de o conjunto de favelas abrigar três facções criminosas exige uma mudança na tática de patrulhamento. A patrulha ostensiva será feita 24 horas por dia, a pé e em veículos - um total de 260, entre blindados, caminhões e motocicletas. O general acrescentou que vai utilizar uma tática chamada saturação de operação de patrulhamento, em que todas as ruas e vielas são vigiadas.

As tropas serão divididas em três bases, chamadas pontos fortes. Elas não serão fixas, mudarão de lugar frequentemente para evitar que a ronda fique estática. Escoto acompanhou o hasteamento da Bandeira Nacional na Praça do Dezoito, na Baixa do Sapateiro, atrás da Vila Olímpica.

Ocupação por forças federais neste sábado
Neste sábado, ainda estava escuro quando os primeiros homens, empunhando fuzis e vestindo uniformes camuflados, se posicionaram nos principais acessos do complexo. Com o apoio de 20 veículos blindados, 2.750 militares de Exército, Marinha e PM levaram pouco mais de quatro horas para substituir os 300 homens da PM na região. Seis dias depois do início das ações de pacificação, as comunidades onde vivem 130 mil pessoas, cortadas por importantes vias expressas — como a Linha Vermelha, que liga o Aeroporto Internacional Antonio Carlos Jobim ao Centro da cidade — tiveram o patrulhamento reforçado.

O planejamento traçado há quase duas semanas pelo Centro de Comando de Operações do Comando Militar do Leste (CML) foi seguido à risca. Não houve registros de disparo de tiros, mas bandidos chegaram a colocar carros roubados atravessados em ruas de acesso às favelas, para dificultar a entrada dos veículos blindados.

Preparados para situações extremas, fuzileiros navais e paraquedistas não tiveram dificuldades na ocupação. Os homens das Forças Armadas foram recebidos com frieza por moradores. A cautela pautou o discurso da maioria, que pedia anonimato. Na Rua Teixeira Ribeiro, um dos acessos à Favela Nova Holanda, onde aos sábados é montada uma feira livre, os comerciantes demoraram a levantar as barracas. Robertinho de Belém, vendedor de eletrônicos, estimou que o público da feira tenha caído 40%, ontem. Ele chega a faturar R$ 800 a cada dia de trabalho.

— Bem cedo eu liguei para os amigos para saber se teria mesmo a feira. O pessoal fica com medo, né? Mas está tudo na paz — disse ele.

A princípio, as Forças Armadas permanecerão na Maré até 31 de julho. O governador Luiz Fernando Pezão disse que os policiais que assumirão a 39ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), na Maré, ainda serão selecionados. E acrescentou que até a próxima sexta-feira haverá a formatura de 800 PMs e que o estado está abrindo concurso para contratar mais seis mil PMs. Pezão, o ministro da Defesa, Celso Amorim; o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo; o comandante do CML, Francisco Modesto, e o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, assinaram um termo de compromisso para a criação da Força de Pacificação — de apoio para a instalação da UPP no Complexo da Maré.

A movimentação dos militares na Maré começou às 3h30m de ontem. Na Nova Holanda, soldados do Exército revistaram carros e pedestres. Na mesma comunidade, na Rua Sargento Silva Nunes, e em vias do Parque União, moradores tentavam manter a rotina. A tradicional feirinha de sábado da Vila do João reuniu menos gente do que de costume. Bem cedo, os moradores que saíram para trabalhar já prenunciavam uma ação pacífica.

— Pode tirar o colete (à prova de balas), não vai ter tiroteio, não — disse um morador da Nova Holanda a um repórter do GLOBO.

Para a passagem do comboio das Forças Armadas em direção à Maré, a pista lateral da Avenida Brasil, sentido Zona Oeste, e as saídas 9B e 9C da Linha Amarela, sentido Fundão, ficaram bloqueadas das 3h30m às 6h30m.

O motorista de um pequeno caminhão de frete teve paciência: ao tentar chegar em casa, deparou-se com um comboio de fuzileiros navais vasculhando ruas da Nova Holanda. Ao lado de um muro grafitado com as inscrições da facção criminosa que dominava o local, o motorista disse preferir esperar para avaliar os efeitos da ocupação:


— Acho que as coisas vão melhorar, sim. Mas só o tempo vai dizer.

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