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Número de policiais militares assassinados este ano em todo o estado se
aproxima do total de 2013
O GLOBO
O enterro do soldado Rodrigo, que tinha seu amor à Polícia Militar
tatuado no corpoAgência O Globo / Márcio Alves
RIO — A morte, nesta quinta-feira, de dois PMs de
UPPs do Complexo do Alemão elevou para dez o número de policiais assassinados
desde 2008, quando começou o programa de pacificação, que hoje totaliza 37
unidades abrangendo 257 favelas. Todos os casos aconteceram a partir de julho
de 2012. Computando registros de todo o estado este ano, tanto em áreas com
UPPs como em outras, já são 15 PMs mortos (quatro deles em serviço). O número
se aproxima do total de 2013, quando foram 18 (11 em serviço).
Na noite de quinta-feira, o soldado Rodrigo de
Souza Paes Leme, de 33 anos, foi atingido por um tiro de fuzil na Favela Nova
Brasília, no Complexo do Alemão, em mais um ataque de traficantes. Menos de uma
semana antes, o também soldado Wagner Vieira da Costa, de 33 anos, foi baleado
no rosto na Vila Cruzeiro. O policial foi internado, mas na noite de
quinta-feira morreu. Por pouco, os dois soldados não foram enterrados no mesmo
dia. O sepultamento de Wagner aconteceria nesta sexta, no Jardim da Saudade, em
Sulacap, mas foi adiado para este sábado — segundo o coordenador-geral das
UPPs, coronel Frederico Caldas, atendendo a pedidos da família. Já Rodrigo foi
enterrado.
O coronel, que ainda se recupera de um ataque
sofrido na Rocinha em meados de fevereiro, lamentou as três mortes ocorridas em
pouco mais de um mês no conjunto de favelas do Alemão. Além de Rodrigo e
Wagner, a soldado Alda Rafael Castilho, de 27 anos, foi baleada pelas costas no
dia 2 de fevereiro. Caldas, no entanto, ressaltou que os PMs receberam
treinamento adequado e não estavam sozinhos quando foram atingidos:
— Sabemos da complexidade que envolve o trabalho na
Rocinha e no Alemão. Essas regiões eram os principais redutos das duas maiores
facções criminosas do Rio. A reação desses grupos sempre foi esperada. Apesar
disso, o processo de pacificação não vai retroceder. Em nome da população e dos
policiais que perderam suas vidas, não vamos permitir a retomada de territórios
por esses grupos.
Programa não será interrompido
O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame,
também reafirmou que o programa de pacificação é irreversível:
— Temos esses fatos muito tristes, que nos comovem,
mas não vamos parar.
Informações de setores de inteligência da polícia
indicam dois motivos por trás dos ataques: a tentativa de restabelecer, em
áreas pacificadas, a venda de drogas, que era a principal fonte de renda dos
criminosos, e sobretudo o interesse dos chefes das quadrilhas de cumprir sua
pena em presídios no Rio — a maioria está em penitenciárias federais fora do
estado.
Para a cientista social Sílvia Ramos, coordenadora
do Centro de Estudos em Segurança e Cidadania (CeSeC), da Universidade Candido
Mendes, esse é um dos principais problemas que afetam o projeto das UPPs.
— A implantação do projeto de pacificação, de
polícia de proximidade, teve o apoio da sociedade. E chega agora a este
momento, em que criminosos atacam com violência a polícia, e a sociedade não se
manifesta. Não há indignação? O que está faltando é um pronunciamento mais
claro da sociedade, se quer ou não as UPPs. Parece que a sociedade resolveu
achar que a morte de um traficante está certa e que a morte de um policial
também. Nenhuma morte deve ser aceita, particularmente a de policiais, que
estão lá ajudando a população.
A socióloga Julita Lemgruber, também do CeSeC,
classificou de ingênua a ideia de que o tráfico não reagiria em algum momento:
— Quem mora na favela tem direito a segurança,
assim como quem mora no asfalto, sem dúvida. Com poucas UPPs, o gerenciamento
era mais fácil. Agora, que tem muitas, as coisas se complicam. A solução é a
legalização das drogas.
A resistência do tráfico à
pacificação
Iniciado há pouco mais de cinco anos, o programa de
pacificação já retomou o controle de áreas do estado onde vivem 1,5 milhão de
pessoas e que antes estavam sob o domínio do tráfico armado. Mas, mesmo após a
inauguração das sedes das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), facções
criminosas continuam a desafiar o poder do estado em algumas favelas, promovendo
ataques e emboscadas.
A primeira morte aconteceu no Alemão, a área
pacificada que mais tem registrado conflitos. A soldado Fabiana Aparecida de
Souza, de 30 anos, foi atingida em julho de 2012 por um tiro de fuzil dentro da
UPP de Nova Brasília. A policial estava há um ano e quatro meses na PM. O
trabalho na UPP da Nova Brasília era o primeiro da soldado. Após a morte, as
favelas da região foram ocupadas pelas tropas de elite da PM, mas isso não foi
suficiente para conter a onda de violência. Desde então, foram seis PMs mortos
no Alemão. A situação no último mês parece ter recrudescido, com mais
confrontos e ataques, que acabaram com três PMs mortos: Rodrigo Paes Leme,
Wagner Vieira da Costa e Alda Rafael Castilho.
Este mês, na Rocinha, traficantes atacaram o
coordenador das UPPs, coronel Frederico Caldas, e a comandante da unidade na
favela, major Pricilla Azevedo. Os dois ficaram levemente feridos. Para o
secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, o ataque foi uma “total
afronta”.
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