·
Secretário de Segurança diz ter 600 homens a postos, inclusive das
Forças Armadas
·
Soldado recém-ingressado na PM é enterrado. Ele tinha sido baleado no
rosto
À esquerda, Fernanda Pinto (de camiseta polo) se despede do noivo,
Wagner Vieira da Cruz (em foto de arquivo à direita): o 10º PM morto em UPPs Gabriel de Paiva / O Globo e divulgação
RIO — As mortes de três policiais militares de
Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) do Complexo do Alemão, este ano,
levaram o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, a não
descartar uma nova ofensiva na área, com o apoio das Forças Armadas e da
Polícia Federal. Segundo ele, já há cerca de 600 homens disponíveis, caso haja
necessidade de uma nova ocupação. Na última sexta-feira, ele se reuniu com a
cúpula das polícias para traçar uma nova estratégia para a região, baseada em
informações de órgãos de inteligência e de investigações sobre as quadrilhas
que estão atuando dentro e fora das favelas pacificadas, na tentativa de
atingir o programa das UPPs.
— Primeiro, queremos uma ação mais racional e menos
traumática. Fazer uma reocupação com 500 ou 600 policiais não está descartado.
Nos reunimos no Centro Integrado de Comando e Controle da secretaria para
decidir sobre qualquer mudança de rumo. Não podem morrer mais policiais da
maneira que vem acontecendo. Não que a morte de um policial não seja normal,
pois são percalços da profissão. Mas estamos analisando todas as possibilidades
friamente. Será que não podemos pôr 500 homens no Alemão ou no Juramento? Temos
portas abertas em todas as instituições: Marinha, Exército, Aeronáutica,
Polícia Federal, além do nosso pessoal. Temos que caminhar com o processo de
pacificação, e ninguém vai nos impedir. Se entendermos que precisamos de algo
mais maciço nas ocupações, iremos adiante — disse o secretário — Acho que
ninguém deseja que o tráfico volte a regular o preço da droga e a vida das
pessoas como antigamente — acrescentou.
O último soldado vítima do tráfico no Alemão foi
Wagner Vieira da Cruz. No dia 28 de fevereiro, ele levou um tiro no rosto,
cinco horas depois de ter começado seu turno na Vila Cruzeiro. Após ser
atingido, ele passou uma semana internado no Hospital Estadual Getúlio Vargas.
Morreu na última quinta-feira, engrossando a lista de PMs de UPPs mortos. Foram
10 desde 2008.
Soldado recém-ingressado na PM é
enterrado
O soldado, que estava na Polícia Militar havia
apenas 41 dias, e sequer tinha recebido o primeiro salário, sonhava se casar em
fevereiro e ter um filho com a noiva, Fernanda Pinto.
— Outro dia, o Wagner tinha desenhado um mapa do
lugar onde dava plantão e disse que ficaria acuado se alguma coisa acontecesse.
Ele era muito medroso. Dizia que queria se aposentar como PM em Copacabana,
ajudando velhinha a atravessar a rua. Vivia dizendo que ia pedir para ser
transferido — conta Fernanda.
Em janeiro, Wagner foi diplomado pelo Centro de
Formação e Aperfeiçoamento de Praças, depois de passar um longo tempo sonhando
em fazer carreira militar. Formado em Sociologia pela Fundação Educacional
Unificada Campo-Grandense, via na PM “uma chance de crescer”. Aos 18 anos,
havia se alistado no Exército, onde ficou até os 25. Depois, trabalhou por
outros cinco anos no Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Degase).
Conhecido como um homem brincalhão, ele adorava
ficar com a filha Hanna, de 8 anos, fruto de um relacionamento anterior, e com
os animais que mantinha: um mico, coelhos, tartarugas, cachorros e gatos. Foi enterrado
no sábado de manhã no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap. A família estava
inconformada. A irmã, Renata, culpava o Estado.
— Colocaram quatro recém-formados com um fuzil
dentro de um contêiner. Que experiência eles tinham? — perguntava.
O comandante das UPPs, coronel Frederico Caldas,
disse entender a revolta da família:
— Mesclamos policiais experientes com
recém-formados nas unidades, mas não significa que eles não tenham sido bem
treinados. Fazemos isso porque eles não têm vícios. Não planejamos mudar a
estrutura das UPPs, mas intensificar os cursos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário