O Globo
Policiamento foi reforçado no Complexo da Maré desde a última
sexta-feira - Márcio Alves /
Agência O Globo
RIO — Apesar da
ostensiva presença de policiais militares nesta segunda-feira nas comunidades
do Parque União e da Nova Holanda, no Complexo da Maré, Zona Norte do Rio, os
moradores das duas áreas sob domínio da principal facção criminosa em atividade
no Rio não escondem a sensação de intranquilidade, sobretudo diante das
câmeras. Enquanto crianças tomam as ruas, alheias ao vaivém de policiais
fortemente armados, homens e mulheres preferem manter o silêncio quando
questionados sobre a anunciada ocupação por tropas militares.
O medo é explicado
por um comerciante, que já foi alertado a não vender nada aos policiais:
— Os meninos acham
que, se eu vender uma água aos PMs, é porque sou X9. Preferi nem abrir a
barraca hoje — disse o nordestino, morador do Parque União há 25 anos.
Ao notar a
aproximação do fotógrafo, o homem silencia imediatamente. Ser visto conversando
com jornalista pode representar dor de cabeça.
— Tenho família
para alimentar — resume.
No Parque União e
na Nova Holanda vivem cerca de 60 mil pessoas, segundo dados do IBGE. Dentre as
16 comunidades que integram o Complexo da Maré, elas são as que apresentam
maior concentração de migrantes nordestinos. “Gente batalhadora”, como fez
questão de ressaltar o comerciante.
No sortido comércio
local não faltam bares, salões de cabeleireiro, lan house, lojinhas de roupas,
de peças para motos, mercearias e até uma churrascaria. Uma pracinha tomada por
quiosques na entrada da rua Roberto Silveira é o principal acesso à comunidade,
localizada à frente da Avenida Brasil. Não há brinquedos no espaço público,
onde crianças circulam de bicicleta alheias a um grupo que consome crack. Um
dos usuários, um menino, de 10 anos, ora se aproxima das crianças menores, ora
corre em direção aos dependentes, que queimam uma pedra atrás da outra. O
vaivém dos usuários não é inibido pela presença da polícia.
Desde sexta-feira,
homens do BOPE concentram as ações em becos e ruas das duas comunidades,
consideradas reduto da facção que está por trás dos recentes ataques às
Unidades de Polícia Pacificado (UPP). Nesse cenário, o 22º BPM se tornou uma
espécie de base para equipes do BOPE, Batalhão de Choque e da Companhia de
Cães.
Nos fundos do
batalhão, o muro que separa a unidade da favela Nova Holanda tem diversas
marcas de tiros. Ao sair direto no interior da comunidade é possível encontrar
estampado em uma barraca o desejo da maioria dos moradores: Barraca da Paz.
Antes da chegada
dos homens do Exército, anunciada pelo secretário José Mariano Beltrame, os policiais
militares prendem suspeitos e recolhem carros e motos roubadas. Só até o início
da tarde, homens do 22º batalhão apreenderam seis motos e cinco carros que eram
usados pelos bandidos. A entrada dos policiais nas comunidades é precedida pela
queima de fogos de artifício. Os morteiros são usados por traficantes para
anunciar a presença da PM e evitar a perda de drogas e armas.
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