União enviará tropas federais para tentar conter ataques de bandidos
·
Estratégia de
segurança será formalizada na próxima segunda-feira, em nova reunião com
ministérios da Justiça e da Defesa
O GLOBO
Ao lado do ministro da Justiça, Cabral confirma reforço federal no Rio
após ataquesJorge William /
Agência O Globo
BRASÍLIA e RIO — Em uma reunião de quase duas horas, a presidente Dilma
Rousseff e o governador Sérgio Cabral acertaram nesta sexta-feira o envio de
tropas federais para reforçar as ações de combate aos ataques de organizações
criminosas nas comunidades pacificadas do Rio. Segundo o governador, a
estratégia de segurança será formalizada na próxima segunda-feira, em nova
reunião com representantes dos ministérios da Justiça e da Defesa, sinalizando
que o reforço deverá contar com homens da Força Nacional (composta por quadros
das polícias Civil, Militar e Federal) e das Forças Armadas (Exército, Marinha
e Aeronáutica). Este ano, quatro PMs de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs)
do Complexo do Alemão já foram mortos em ataques do tráfico. Além disso, já ocorreram
cerca de 30 tiroteios na Rocinha.
Depois do encontro no Palácio do Planalto, Cabral e o ministro da
Justiça, José Eduardo Cardozo, disseram que não detalhariam as medidas a serem
tomadas, pois, em questões de segurança pública, a estratégia precisa ser
implementada antes de ser divulgada. O governador afirmou que a operação
conjunta será detalhada na segunda-feira, mas o governo do Rio não está parado.
Segundo ele, todos os policiais civis e militares estão de prontidão para
garantir a segurança da população neste fim de semana.
— Quem quer guerra são os marginais. Nós queremos paz nas comunidades.
Quem quer guerra, quem quer conflito, quem quer atirar em policial militar
covardemente são eles. A nossa polícia está muito motivada, nossa Polícia Civil
tem feito grandes investigações, contado com o apoio das forças federais, feito
grandes trabalhos. E este fim de semana também será de grandes trabalhos —
afirmou o governador.
Ministro: solidariedade total
Cabral disse que a polícia do Rio identificou que os ataques são uma
ação orquestrada para desmoralizar a política de pacificação. Segundo ele, nas
áreas com Unidades de Polícia Pacificadora, a taxa de homicídios foi reduzida
em 65%.
— O crime organizado tenta desestabilizar a presença da polícia nessas
comunidades com ataques covardes, gerando o pânico e fazendo vítimas entre PMs
e civis. É o momento em que as UPPs estão sendo checadas, provocadas. Há uma
tentativa clara de desmoralizar as UPPs, que são uma referência — disse Cabral,
negando que haja constrangimento de pedir ajuda federal.
Segundo Cardozo, a orientação da presidente é para que o governo federal
apoie as iniciativas do Rio, reforçando a parceria entre as duas esferas de
poder. De acordo com o ministro, a solidariedade da União com o estado é total.
Na próxima segunda-feira, o governador vai oficializar o pedido ao governo
federal. Só então a presidente autorizará o envio das tropas.
— Às perguntas sobre que forças vão intervir, onde vão intervir e como
vão intervir, eu não poderei responder. Não é maldade com a imprensa, mas questões
de segurança pública são tratadas sigilosamente. Depois, tanto eu quanto o
governador prestaremos as contas de tudo que foi efetivamente feito. Mas antes
tem que ser executado — disse o ministro.
Cabral agradeceu o apoio e a solidariedade que o Palácio do Planalto
“sempre teve” com seu governo. Cardozo disse que a União já está acompanhando e
ajudando as polícias fluminenses.
— Temos uma concepção muito clara: o governo federal e o governo do
Estado Rio são mais fortes juntos do que o crime organizado — disse Cardozo.
Sobre a Copa, Cabral disse que sua preocupação principal é com a
população fluminense e que o Mundial é “decorrência”. Cardozo afirmou que o
governo tem um excelente plano para a Copa e que está certo de que os jogos
ocorrerão num cenário de segurança.
Tropas ajudaram outras vezes
Tropas federais já atuaram outras vezes auxiliando na segurança pública
do Rio. O próprio programa de pacificação já contou com a ajuda da União. Em
novembro de 2011, por exemplo, fuzileiros navais e blindados da Marinha
participaram da ocupação da Favela da Rocinha, que mais tarde ganharia uma
Unidade de Polícia Pacificadora.
Um ano antes, em novembro de 2010, fuzileiros navais com os rostos
pintados, em seis carros blindados, também atuaram, juntamente com policiais do
Bope e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), na ocupação da Vila
Cruzeiro, na Penha. Próximo dali, militares do Exército ficaram 19 meses no
Complexo do Alemão, durante o processo de pacificação.
No ano passado, para a visita do Papa Francisco, durante a Jornada
Mundial da Juventude, em julho, o esquema de proteção ganhou o reforço de
integrantes da Força Nacional de Segurança, que foram espalhados por diversos
pontos da cidade, principalmente as vias usadas nos deslocamentos do líder
religioso.
Em janeiro de 1995, as três Forças Armadas participaram da Operação Rio,
de combate à criminalidade em diversas favelas. Só no Complexo do Alemão, foram
4.200 homens, 12 blindados e 11 helicópteros do Exército, da Marinha e da
Aeronáutica. A ação durou quatro meses, resultando em 197 prisões.
Em junho de 1992, tropas federais também foram para as ruas, para
garantir a segurança na cidade durante a realização da Rio-92, conferência da
ONU sobre meio ambiente e desenvolvimento. Na época, blindados militares podiam
ser vistos posicionados em pontos estratégicos. Mais de cem chefes de governo e
de Estado vieram para o evento. Vinte anos depois, foi a vez da realização da
Rio+20. Mais uma vez, a cidade teve a segurança reforçada por tropas federais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário