Ideia do comando segue modelo americano, em que se chega ao topo da
carreira vindo de baixo
ANDRÉ BALOCCO
Praças poderão virar oficiais da PM, que mudou o acesso à graduação
Foto: Severino Silva / Arquivo Agência O Dia
Rio - É como fazer uma revolução
sem usar armas. Reivindicação antiga entre especialistas em segurança pública, a possibilidade de
que praças e soldados cheguem a oficiais na Polícia Militar do Rio de Janeiro
vai se transformar em realidade este ano.
A medida, na fase final de
elaboração pelo Estado-Maior da corporação, permitirá, por exemplo, que um
soldado, caso estude e se especialize durante sua carreira, chegue a coronel e
até a comandante-geral da PM. Hoje, o máximo a que se pode chegar, quando se
entra como aspirante, é a sargento ou oficial de segunda linha.
“A carreira fica mais atrativa e
a polícia aproveitará seus melhores quadros”, disse o chefe do Estado-Maior,
coronel Robson Rodrigues — que se tivesse entrado na PM como praça, não teria chance de chegar ao cargo
que ocupa. “Teremos apenas um concurso, uma única entrada, ao contrário de
hoje, em que existem dois separando praças e oficiais.”
Pela novo estatuto, que precisa ser
aprovado pela Alerj, todos terão de passar pela mesma porta de entrada.
Aprovados, fazem um curso básico de 27 semanas. Depois, podem optar pelo curso
de oficial. “Será um curso de tecnólogo feito no Ensino à Distância (EAD),
reconhecido pelo Ministério da Educação e com provas presenciais, coisa que
hoje não acontece com quem se forma oficial”, continua Robson. “O policial terá
mais atrativos, terá de se especializar e ganhará mais conhecimento.”
Segundo o policial, o concurso
para oficial da PM, que aconteceria este ano, já foi suspenso para se adaptar
às novas regras.
Diretora do Centro de Estudos de
Segurança e Cidadania (Cesec), da Universidade Candido Mendes, a doutora em
Ciência Social Sílvia Ramos classificou a medida como “revolucionária.” Para
ela, a reformulação na estrutura da Polícia Militar do Rio mudará os parâmetros
de segurança pública do país, e tende a se espalhar por todos os estados.
“É uma reivindicação antiga.
Hoje, temos duas polícias dentro da PM: a dos oficiais e a dos praças”, afirma.
“É muito importante que isso comece pela polícia do Rio, até pelo simbolismo.”
Ela usa o exemplo da carreira
policial nos Estados Unidos para defender a medida, e lembra que o mesmo
acontece na Inglaterra. “Nos EUA, o chefe de polícia, um dia, dirigiu o carro
como praça. Isso é fundamental para tornar a carreira atrativa e evitar esta
separação atual, em que um jovem aspirante a tenente nunca dialogou com o
soldado em sua formação. Este é um modelo que só existe no Brasil.”
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