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quarta-feira, março 12, 2014

Sem policiamento, tráfico continua agindo livremente na Vila Kennedy antes de chegada da UPP


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                                 O GLOBO  

Moradores estão desconfiados com movimentação de pessoas estranhas na comunidade após o anúncio da ocupação
·        Há barricadas nos acessos aos pontos de venda de drogas

Barricadas na Vila Kennedy nesta quarta-feira Pablo Jacob / Agência O Globo
RIO - Enquanto a ocupação policial não acontece, o tráfico atua livremente na Vila Kennedy. Por toda a manhã e início de tarde desta quarta-feira, uma equipe do GLOBO encontrou jovens fumando maconha, sobretudo num trecho ao lado de um campo de futebol ao lado da Escola Municipal Alcides Etchegoyen, na Avenida Central. Por todo o tempo, jovens em motos passam intimidando moradores e jornalistas. Em momento algum, a equipe de reportagem viu qualquer patrulha da polícia. Moradores temem a reação dos bandidos, que estariam anunciando o fechamento das pistas da Avenida Brasil assim que anoitecer. 

O clima é de muita expectativa na comunidades após o anúncio de que o Bope e o Batalhão de Choque (BPChoque) vão ocupar a comunidade nesta quinta-feira para implantar a 38ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Rio. Barricadas podiam ser vistas nos acessos aos pontos de venda de drogas. Numa das ruas na Metral, comunidade do bairro, a equipe de reportagem foi abordada por dois homens enquanto fotografava um barreira improvisada com pedaços de concreto para impedindo o acesso de veículos. As barreiras se multiplicam num trecho da Vila Kennedy quase às margens da Avenida Brasil. Uma delas, feita com pedaços de madeira, ardia em chamas.

Apesar de uma certa falta de tranquilidade, homens da Comlurb trabalhavam na limpeza de ruas, algumas com grande concentração de jovens circulando a pé ou em motos. Um comerciante, que pediu para não ser identificado, disse que desde o fim de semana traficantes estão impondo toque de recolher, sobretudo, na Metral.

Na noite anterior, a comunidade chegou a ficar sem luz. Homens trabalham para restabelecer o fornecimento de energia elétrica onde traficantes atiraram contra transformadores. Pela manhã, uma das equipes recebeu ameaças supostamente de traficantes. Durante a madrugada, traficantes que usavam motocicletas circularam armados pelas ruas da comunidade, deram tiros para o alto. Eles intimidaram comerciantes e moradores com ameças para aqueles que vierem a apoiar a pacificação.

Nesta quarta-feira, grupos de traficantes se preparavam para fugir em várias motocicletas. Eles se reuniram no seu quartel-general, na Rua Congo, para organizar a saída da comunidade. Sem se identificarem, alguns moradores falaram sobre suas expectativas.

— O nosso maior medo é das consequências de um tiroteio. O que as pessoas devem fazer? Era preciso haver uma orientação. Ficar em casa? Sair mais cedo para o trabalho? — perguntou um morador.

Uma disputa de traficantes por território tem amedrontado os cerca de 100 mil moradores da Vila Kennedy, um conjunto habitacional inaugurado há 50 anos na Zona Oeste, para onde foram levados moradores removidos de favelas de Botafogo e do Maracanã. A comunidade é atravessada pela Avenida Brasil. O bairro ainda tem característica de zona rural, com plantações de banana e aipim dividindo espaço com trechos de mata em morros, onde traficantes buscam refúgio. É nessa área, segundo moradores, que os criminosos ocultam armas, drogas e mantém acampamentos para escapar da ação policial.

Em fevereiro, houve diversos tiroteios na região. No último dia 23, três ônibus foram incendiados em uma manifestação de moradores, que chegou a interditar a Avenida Brasil e deixar mais de dois mil alunos sem aulas.

A disputa por território entre quadrilhas de traficantes tem com pano de fundo uma briga entre Aldair Marlon Duarte, o Aldair da Mangueira, nascido em Manguinhos, e Fábio Augusto de Souza, o Fabinho Noronha. Aldair decretou a morte de Fabinho por causa de uma desavença envolvendo a mulher do primeiro. Isso apenas reforçou o desejo de Fabinho de deixar sua facção, por se sentir desprestigiado na favela. Ele era visto com frequência conversando, na Vila Aliança, com o então rival Márcio José Sabino Pereira, o Matemático, antes de sua morte, há nove meses. Em fevereiro, Marcelo Santos das Dores, o Menor P, sucessor de Matemático, teria dado apoio para Fabinho mudar de quadrilha.

Em meados de fevereiro, Fabinho, Felipe da Silva Caetano Costa, o Zebrião — atual “gerente-geral” da Vila Aliança —, e mais de 40 criminosos saíram da Aliança rumo à Vila Kennedy com roupas pretas e boinas. PMs informaram que eles ficaram dois dias na mata, junto à Vila Kennedy. Depois, conseguiram chegar até a Praça da Vila Kennedy, dando início a um tiroteio que durou todo o dia e incluiu PMs que já ocupavam o lugar.

Chefes já teriam fugido
Pouco antes da ocupação da Vila Kennedy, os gerentes do tráfico não estão mais no local, de acordo com o EXTRA. Segundo investigações da Polícia Civil, os membros mais altos da hierarquia do tráfico fugiram para a favela Nova Holanda, no Complexo da Maré, Zona Norte da cidade. Um deles, já identificado pela polícia, é Max André Lopes Santos, de 29 anos, o Naya, que aparece numa imagem chefiando um bando de sete homens, armados com quatro fuzis e duas pistolas.

O antecessor de Naya à frente do tráfico na região também não está mais na Vila Kennedy. Fabinho Noronha foi expulso há cerca de duas semanas e se refugiou em Acari.

Iniciativa americana

A construção do conjunto habitacional teve origem num programa chamado Aliança Para o Progresso, criado pelo presidente americano John Kennedy para financiar projetos sociais na América Latina, a fim de combater o comunismo. O Brasil então assinou um acordo com os EUA e passou a integrar a lista dos países latino-americanos beneficiados. Vila Esperança seria o nome do novo bairro, mas foi mudado para homenagear o presidente dos Estados Unidos após a sua morte, em Dallas.


O governo resolveu aplicar os recursos vindos da União na construção de bairros proletários para pôr fim à favelização na Zona Sul da cidade. Havia uma área de 964.207 metros quadrados, entre o Distrito Industrial de Bangu e a Zona Rural de Campo Grande. Dona Rita lembra as dificuldades do momento. A Praça Miami, de acordo com Alex Belchior, foi batizada com esse nome em razão da visita do então prefeito da cidade americana à Vila Kennedy. Ele foi entregar uma carta da viúva de John Kennedy, Jaqueline Kennedy, agradecendo a homenagem feita a seu marido.

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