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sábado, abril 12, 2014

Saques e depredações têm traficantes como patronos




    Bandidos estariam infiltrados em manifestações na periferia do Rio

O GLOBO 

Após desocupação de área da Oi, pessoas saqueiam loja Pablo Jacob / Agência O Globo
RIO - A reação violenta de moradores das favelas do Rato Molhado e do Jacarezinho, atirando pedras e paus na polícia, depredando agência bancária, saqueando lojas e incendiando ônibus não foi espontânea. Trocas de informações entre agentes de segurança dos governos federal e estadual revelam que traficantes estão agindo infiltrados em manifestações na periferia do Rio, especialmente quando envolve a presença de forças policiais, como a que marcou ontem o desfecho da ação de reintegração de posse do terreno da Oi, no Engenho Novo.

Interceptações de conversas de criminosos mostram que eles estão seguindo sob orientação do traficante Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, que comandou o tráfico nas favelas dos complexos da Penha e do Alemão. Mesmo cumprindo pena em presídio federal de segurança máxima, o bandido passou a coordenar, há três meses, uma reação da criminalidade contra operações policiais de qualquer tipo. Numa espécie de vingança contra o avanço das unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em regiões antes dominadas por sua quadrilha.

O antropólogo Paulo Storani, ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM e pesquisador da Universidade Candido Mendes, disse que existe um novo cenário na periferia do Rio e que o tráfico de drogas tem participação ativa. Segundo ele, ordens foram dadas para as depredações acontecerem ontem.

— Os ataques aconteceram de forma articulada em diversos ambientes, revelando grande capacidade de enfrentar a polícia. Uma ação organizada para transmitir sensação de insegurança. Nesse caso, não tenho dúvidas de que houve direta ou indiretamente uma participação do narcotráfico nos registros de depredações — afirmou Storani.

O pesquisador lembrou ainda que, no caso específico da ocupação do terreno da Oi, tudo leva a crer, pela forma rápida como as pessoas chegaram ao local, que ocorreu um planejamento preliminar.

— Não foi uma ação espontânea. Houve articulação. O projeto de ocupação de território pela polícia forçou no início um recuo do tráfico, mas agora ele mostra ter encontrado uma forma de mobilização organizada — disse o antropólogo.

O tenente-coronel da reserva da PM Milton Corrêa da Costa acredita que houve uma ação determinada e orquestrada por traficantes de favelas próximas:

— O momento de tensão foi aproveitado por criminosos para desafiar e atacar a polícia a tiros e destruir o patrimônio público e privado, com até mesmo agências bancárias sendo depredadas. O Brasil caminha a passos largos para um clima de permanente tensão social.

Palavra de especialista: Roberto Kant de Lima, antropólogo da Universidade Federal Fluminense (UFF)

“Desalojado de seus espaços, o tráfico ficou incomodado com as UPPs, assim como a polícia, pois os padrões de relacionamento teriam que se transformar naqueles espaços onde o poderio ostensivo das armas não fosse mais a única linguagem capaz de impor autoridade. Será necessário, para a continuidade das atividades ilegais, encontrar outras formas de sociabilidade. Esse é o desafio que, para ser bem-sucedido, deverá desconstruir preconceitos antigos e arraigados entre todos os atores, propiciando a melhor convivência possível de todos. Além de ser tarefa muito difícil e demorada, isso não é um processo cumulativo linear e contínuo, enfrentando altos e baixos no seu desenvolvimento”

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