RIO - O governador Luiz Fernando Pezão anunciou, neste sábado, que
pretende conversar com a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Justiça,
José Eduardo Cardozo, para que a Força de Pacificação permaneça no Complexo da
Maré após dezembro, prazo inicialmente previsto para a retirada da tropa. Na
sexta-feira, o cabo do Exército Michel Augusto Mikami, de 21 anos, foi morto
com um tiro na cabeça no conjunto de favelas, durante patrulhamento em um beco
na Vila dos Pinheiros. Ele foi velado na madrugada deste sábado no Hospital
Central do Exército, em Benfica, em cerimônia reservada para os militares. Após
a cerimônia, o corpo seguiu para o interior de São Paulo, onde será enterrado
com honras militares. As informações são da Força de Pacificação, que não divulgou
o local e o horário do sepultamento.
Segundo Pezão, devido à dificuldade que a comunida0de representa, a
ideia é que a Força de Pacificação continue ocupando a região até que novos
policiais militares se formem no Rio. Em evento realizado em Piraí neste
sábado, ele falou sobre a Maré: "É uma comunidade ao lado da Avenida
Brasil, da Linha Vermelha, perto do Galeão, que tinha um nível de violência
inimaginável. Uma região que o tráfico dominou por mais de 30 anos. Isso mostra
a dificuldade que nós temos. E, se não fosse essa parceria com a presidente
Dilma e as Forças Armadas, dificilmente conseguiríamos ter êxito na nossa
política de pacificação".
De acordo com o governador, com o apoio da Força de Pacificação na Maré,
os policiais militares poderão continuar reforçando os batalhões do interior do
estado. Pezão garantiu ainda que mais mil PMs serão formados até o fim deste
ano.
Segundo o serviço reservado da Força de Pacificação, há informações de
que a quadrilha liderada por um bandido identificado como TH, integrante do
grupo do traficante Marcelo dos Santos das Dores, o Menor P, é a responsável
pela morte de Michel. O comandante da Força de Pacificação, general Ricardo
Rodrigues Canhaci, disse que já instaurou um inquérito policial militar para apurar
o crime. À frente de 2,7 mil homens do Exército que fazem parte da Força de
Pacificação, o general lamentou a morte do cabo mas ressaltou que não irá
retroceder no patrulhamento.
- O assassinato de forma covarde do nosso militar não vai retroceder o trabalho
de pacificação. O evento da morte é doloroso. Perdemos uma pessoa de bem, que
saiu de sua casa em outro estado para lutar pela paz da população. Mas somos
profissionais preparados para crises e conflitos e vamos absorver a dor,
progredir e trabalhar com mais vontade - disse ele, acrescentando que o cabo
será enterrado como herói. - Como acontece com qualquer militar que morre em
uma guerra.
Michel é o
primeiro militar assassinado na Maré desde o início da ocupação do complexo, em
5 de abril. Ontem, um dia após a morte do cabo, o patrulhamento de
rotina seguia sem alteração nas ruas do complexo. Na altura das vilas dos
Pinheiros e do João, pelas entrdas da Avenida Brasil, militares com poucos
carros blindados faziam rondas e revistavam moradores.
No entanto, um grande aparato foi montado no entorno da Vila Olímpica da
comunidade, onde Exército organizou um evento de ação social, em parceria com
órgãos estaduais e municipais, e entidades da sociedade civil. Moradores da
Maré, para entrar na Vila Olímpica e participar do projeto, passavam por
revistas e detectores de metais.
Questionados sobre o tiroteio que matou o cabo do Exército, moradores da
Maré evitavam fazer comentários:
- Não vi não. Aconteceu em outra comunidade. Não sei o que houve - disse
uma senhora que observava crianças praticando natação na piscina da Vila
Olímpica.
Coordenador da ONG Observatório de Favelas, que fica na Maré, Jorge
Barbosa disse que os tiroteios no complexo são esporádicos. Ele acrescentou, no
entanto, que já está na hora de o Exército deixar a comunidade para que forças
do governo estadual entrem com a segurança, e principalmente com os serviços
sociais.
Com experiência em missões de paz em Angola e no Sudão do Sul, o
general, que está na Maré desde o dia 15 de outubro, disse que já identificou a
estratégia dos traficantes da Maré, principalmente na região das vilas dos
Pinheiros e João para resistir à tropa da pacificação. Segundo o general o
serviço de investigação do Exército já detectou que traficantes fazem reuniões
e obrigam a alguns moradores a denunciar torturas falsas feitas por militares,
boatos de fechamento de vias expressas e denúncias falsas à Ouvidoria da Força
de Pacificação para deixar frágil o trabalho do Exército.
O comandante militar disse, ainda, que traficantes estão entrincheirados
nessas favelas e, por não poderem mais andar ostentando armas nas ruas acabam
por reagindo a tiros de forma covarde quando os militares entram em becos.
As declarações foram dadas durante a Ação Cívico Social que a Força de Pacificação organizou neste sábado, na Vila Olímpica da Maré, com serviços médicos, atividades esportivas e emissão de documentos.
As declarações foram dadas durante a Ação Cívico Social que a Força de Pacificação organizou neste sábado, na Vila Olímpica da Maré, com serviços médicos, atividades esportivas e emissão de documentos.

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